Não sei o que começou, só sei que estou caindo e perdi o medo de
altura. Meu medo protetor das coisas. É perigoso ser um só, pensar um
só, sentir um só a vida inteira. A solidão muda as pessoas, e quando
possível encontrar um pensamento alheio, que não é seu, ele diz que você
é um só.
Só me resta a imagem da queda, em cada altura que
enfrento. Não vou sorrir de graça, pago caro. A vida não vale o preço
que cobra. A realidade não sabe abrir os braços quando o vento bate, nem
braços tem é só o que pode. E não basta. Sempre sacode de esquina em
esquina, e vem a ânsia de vomito. O enjoo de respirar ar alheio, por que
estou só e não é seguro, não por essas ruas a essa hora. Quase tropeço
em mim as vezes, nas coisa que deixo cair, na escuridão que deixo
emanar. E essa substancia não se mistura com nenhum material conhecido.
Criar é fracasso, é cair. E no estado em que estou, minha maior ansiedade
é em chegar no chão. E acabar em fim, provando que o real pode não ser só queda.
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