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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Conto: Mais uma parte do Futuro


Andava de cabeça baixa, ela, garota de poucas palavras, muda falante. Calava com os dentes os berros inevitáveis, coisa desnecessária, falava com os olhos, criança. Roía as unhas, nervosa, cheia, apaixonada. Brindava em tropeços, aos que bebem, aos que vivem, aos que querem, caiam! Mexia as pernas anoite, dançava. Guardava a sobrevivência pro dia, cantava. Fazia o que sempre faria, mutava. Era parada que andava, só no silencio, falava.

- Coisa de tempo garota, sua vida anda, um dia para, e não é só quando morre. Criança, cresceu. Cresça, e enquanto é tempo, perca-o sendo como fui, criança.

Ela, garota formada, não precisava de placa, sabia o sim e não. Tinhas sonhos, todos tem. Saberíamos, por cada um sozinho, uma palavra nova se eles se realizassem.

- Basta à mim, garota, ter o que me resta, conselhos descarto, fiz fogueira. Tua preocupação teria se quisesse, não sei por que ainda acha que preciso. Eu era a criança, sim, ela cresce. E seu conselho, mesmo verdadeiro, não surte efeito em quem te esquece. E se não te lembro do meu lado, é porque não estava. Não é hoje que vai estar, não merece.

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