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sexta-feira, 2 de abril de 2010

Conto: Tudo que eu fui quando cresci I

Uma bêbada que pensa?!

Hoje o álcool não fez o efeito esperado, e acho graça nesse fato. Não recebo noticias da minha vida faz anos, tudo dura sempre o mesmo tempo, mesma contagem. Quatro paredes, não 16 paredes, dezesseis sujas e velhas paredes, 19 anos, tudo que preciso pra continuar envelhecendo. Comida, roupa limpa, quando limpo, cigarro e bebida...

- Aquele velho me enganou, velho maldito, me vendeu caldo de cana dizendo que era álcool, isso não é álcool!
Olho pra cima e percebo que estou tão bêbada que nem me reconheço no espelho.
- Hahahahaah, criatura patética, nada faz sentido enquanto não tenho sentidos.
Coisas tão simples são as mais difíceis pra pessoas como eu, pessoas... Pessoas? Pessoas não são pessoas, pessoas não são humanas, nunca foram, pessoas sempre foram pessoas!


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Ruas, são só ruas


Eu trabalho no Douceur Bar's, se é que posso dizer que foço isso, sou stripper nesse lugar que é mais podre que a casa onde moro. Se pudesse explodiria aquele lugar, de preferencia comigo dentro, eu e o sujo do meu chefe, cafetão barato, broxa desgraçado, pensa que eu sou a mãe dele! Não sou prostituta, oque foço é arte, sei de pessoas mais bonitas que eu, que não alcançam metade do meu nível de sedução. Motivo de orgulho? Acho que não.
Quando mais nova, dizia que mulheres não são apenas um “pedaço de carne”, e hoje com 19 anos, sem muita diferença daquela época, ganho a vida fazendo com que pensem exatamente isso... Inteligencia? Cuidado quando for dar a resposta!
Moro com uma drogada, os pais não aguentaram os vícios e ameaças, lhe compraram um apartamento, e a jogaram a própria sorte. Não somos amigas, com certeza não é isso que somos, uma não encosta na outra, eu pago as contas e tenho teto e comida, quando compro. E durmo com alguns traficantes de vezem quando.
Os pais dela cuidam do resto, aluguel, gasolina, e eventualmente as drogas da vagabunda. É claro eles não sabem de nada, e eu finjo que acredito. Afinal eles fizeram tudo que podiam por ela, mas acho que a questão é oque não deveriam ter feito. Não pago aluguel e os pais dela não ousam me expulsar daqui. Sabem que se ela esta viva até hoje é porque não a deixei morrer, meu salario é oque poem comida aqui dentro. O dinheiro que eles mandão, adivinha!?
Sorte minha dela se afogar nessas porcarias, se cobrasse aluguel provavelmente estaria usando drogas. É só isso que posso comprar com meu salario de fome, é oque tem de mais barato nas ruas!
E eu já vivi nas ruas...
Ruth é minha amiga, melhor amiga se posso chama-la assim, a vagabunda já me roubou dois namorados mas eu me vinguei. Ela trabalha comigo, a víbora mais experiente daquele lugar, não a mais velha, mas te enganaria fácil se quisesse. Ela me mostrou um brilho tão incomum em seu olhar, acho que seu rebolado apaga todo ele, as vezes parece até que não existe. Ela foi quem me ensinou tudo que sei, e mais algumas coisas, se contasse tudo que aconteceu naquele camarim... Me ensinou a perceber oque eles querem pelo olhar, e mostrar que você tem tudo, mas que não vão conseguir tão fácil.

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